24 maio 2009

É de homem!

Decidi-me. Vou escrever sobre homens. Não é menos equívoco, mas dá mais sossego. O homem da banca ali dos jornais, por exemplo, as mãos negras de informação escorrente na conta-corrente do que hoje jornal amanhã lixo: matutino, olheirento, crescem-lhe varizes nas pernas de horas muitas no cubículo do seu quiosque. O homem que avia bicas e imperiais, garotos escuros e outras ambiguidades açucaradas, para quem o balcão é o limite e a sport-tv companhia: nasce-lhe todos os dias uma vontade de praia e campo ao abrir taipais pelas seis, hora de regresso para os que fazem da noite horário. O homem da vizinha e o homem que não quer saber da vizinha. O homem ansioso de homem e o homem desumanizado. Talvez a literatura lhes deva algum favor, o de fazer deles criaturas nas suas histórias, dar-lhes a oportunidade de serem gente no mundo dos enredos. Brutos quando amáveis, estúpidos quando enganados, deles não se dirá sem olhar oblíquo que são meigos nem que são sensíveis sem passar pelo que não se é. Vou pois escrever sobre homens. Era uma vez um homem. É uma forma de começar. Desde que a história não seja triste, talvez haja leitores. Era uma vez um homem que se fartava de rir. Fatada?