18 abril 2010

Poema da eterna saudade

Davam-lhe ao domingo saudades
saudades quando estava frio e o gradeamento o separava de
todos os demais;
saudades mesmo sem ser domingo quando
iam todos de visita com ele a ficar

Davam-lhe saudades ao sábado
por amanhã ser domingo
e saudades em todos os dias que paravam
e deixavam de ser dias
para passarem assim a mais um dia que passa.

Davam-lhe saudades, saudades de casa como todos os desarranchados
os do colégio interno, os presos e os exilados,
os sozinhos numa pensão
os não menos sozinhos em luxuoso hotel de luxo;
saudades como só sentem os que não têm,
saudades como só sabem os que as têm.

Um dia, porém, dia frio também
igual a tantos outros
em que o sol se escondera
e as horas se aumentaram
descobriu
a íntrinseca natureza
a recôndita característica
o verdadeiro âmago e essência afinal
das saudades de casa
que eram, enfim, saudades de ter casa.

Davam-lhe ao domingo saudades.